[FS 6] Maquiavel, Asami - O Concílio de Olhos Distintos II
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[FS 6] Maquiavel, Asami - O Concílio de Olhos Distintos II
Nome: O Concílio de Olhos Distintos - Parte Dois
Local: Kiri - Passado, cerca de seis anos atrás
Detalhes: Mostrar um pouco mais dos caminhos separados de Asami e Maquiavel enquanto, de maneira sútil, a semente de sua futura união começa a se banhar ao sol.
Um- Staff
Re: [FS 6] Maquiavel, Asami - O Concílio de Olhos Distintos II
O Concílio de Olhos Distintos: Convite
Musashi POV
Olho para a criança, para uma carne que não deve ter uma década de idade. Um pouco de pena escapa de meu olhar, um rastro de um homem que foi devorado pelas chamas da sua existência. Abandonei o código, abandonei meu norte, por algo que está a sete palmos de mim agora. Enterrado junto aos vermes, junto a lembrança de um samurai que não vive mais nesses olhos. A realidade é a rainha da crueza, segue suas próprias regras.
Eu? Apenas persigo os passos de vermelho diante de mim, ouvindo seus lábios lutarem por mais um mísero segundo aqui. Cuspindo, fazendo-o seu pulmão dar seu último par de centavos antes do abraço inevitável. Antes que a morte venha cobrar o que é seu por direito. Não posso negar, essa peste é teimosa. Ombros em carne viva, braços rasgados por uma lâmina nervosa e, mesmo assim, teima em não dar o braço a torcer. Em minha terra banhado por nele, temos um nome para isso - para essa insanidade. Honra.
Se me perguntar, claro, direi que é a estupidez aceita pela sociedade. Não muito diferente do amor, de fato, são perigosamente próximos. Pensamentos, eles andam em minha mente e garante que essa alma não escape de meu corpo velho. Por trás das vestes, por trás de todo glamour, havia uma carne mastigada por cicatrizes. Cada uma tinha um pecado para chamar de seu. Eram dezenas, talvez centenas, que queimavam eternamente em pele.
Meus passos eram calmos, calados como se acostumaram a ser. Alguns diriam que sou metódico, incapaz de lidar com a natureza real das coisas. O caos eterno. Porém, sinto em dizer, esse não é um pecado que mancha meu nome. Um dos poucos que possuem essa honra. Em meu coração, na entranha mais íntima de meu peito estufado, uma tormenta está para nascer. Colocar meu quarto, de alinhamento invejável, de cabeça para baixo.
- Todos somos cachorros perdidos na estrada... A diferença é que não uso coleira mais.
Uma frase simples, um conjunto de palavras que corria para longe de meus lábios. Não havia maldade em sua existência, apenas uma fatia do gosto da vida que acabei por roubar. Meu braço branda ao alto, se pondo contra o destino desses ventos montanheses. Sou um animal, isso está longe de minha tolice negar. Entretanto, distinto de tantos outros, não preciso de mentiras para me embriagar e me fazer feliz pelo tempo de um mero toque.
Altivo, fiz o que não fazia em anos. Observei a presa um pouco mais, assistia-a se rastejando para além de meus dedos sujos de sangue. Determinado, cega para aquilo que descansa por baixo de seu nariz. Tem razão, ele tem muito da Mai, muito mesmo. Mas, essa cabeça dura, era você quando veio para minhas terras. Saquear nossos segredos. Por um momento, um instante não registrado nessa névoa, o saudosismo me fez sorrir. Toquei a vida mesmo que, este corpo, já lhe tenha abandonado.
- Meu nome é Musashi, você merece conhecer o nome daquele que tirou desse mundo: mas, saiba que, para um garotinho, você jogou bem.
Digo isso, jogo as palavras aos quatro ventos porém, não pense que sou vazio como meu olhar faz parecer. Meu braço, minha “foice”, pode está visitando as nuvens e, ainda sim, minha mente é incapaz de voar. Um instante, um segundo que jamais vou admitir, a dúvida passeou por minha carne. Conheceu cada estrada, assombrou cada canto, antes de um corte queimar sua língua.
- Maldição… - A lâmina quebrada acerta seu alvo e, logo em seguida, um tronco toma seu lugar nessa peça. Aquilo mexe com meus nervos mas não como imagina e, certamente, não como deveria. Um riso tomou controle de minha boca, deixou minha alma ser leve, ao menos, uma vez mais. Era como os velhos tempos, como apenas uma memória pode descrever. - Não era muito diferente de você, antes de nossos cabelos grisalhos, teria feito a mesma coisa… Cara, como odeio os truques de sua laia.
De repente, de um papel fixado no tronco, uma explosão se fez.
...
O barulho dela é irritante, a explosão que bate contra o meu peito. Ser enganado por uma criança, porém, não está na lista das piores coisas que já me aconteceu. No flor de nossa vida, meu amigo, isso faria minha face se contorcer em raiva. Em um mesquinho e infante orgulho que não mais me assombra. Agora, com a sabedoria dos cabelos brancos, apenas dou a voz da risada ao infortúnio. Era algo leve, fútil, como pouco de meus dias tinham o vislumbre de ser.
A fumaça cuidava de se misturar na névoa densa que aqui existia, não perdeu-se mais de um par de segundos antes que elas se vissem como irmãs. Por um momento guardo a mim ao solo, a terra que cedeu-me seu espaço para que eu possa passear por aquilo que era sua propriedade. Sabia, desde cedo, que estava pisando em um terreno afogado em seu próprio vermelho. O sangue inocente o construiu, fez o castelo daquele que se tornou escasso de espírito. Mas, quem sou eu para julgar? Frequentamos os meus bares e sarjeta.
Toco meu corpo, passo meus dedos por meu peito. Ainda lembro de quando era feito de algo verdadeiro, de carne e osso. Depois de anos, de tantos contratos pagos, nem isso me restou. Toco o centro de mim, sinto meu coração bater e existir mas, ele não é como pensa. Não é como o seu. Ele desenhado pelas melhores mãos que o dinheiro pode conceber, feito por metais que - para muitos - apenas tem lugar em ficção científica barata.
- Sério, criança, estou curioso… Foi seu pai que lhe ensinou isso? Sempre absorto em driblar a morte e enganar as suas foices, nem imagino que cria veio dele.
Maldade era algo que, mais uma vez, passava longe de minhas palavras. Pena seria o termo mais bem colocado em meus lábios. Não sou uma maçã que caiu muito longe de sua árvore, afinal nunca tive um filho para chamar de meu. Pouco sou bom em lidar com essas pestes ou, ao menos, isso é verdade enquanto permanecessem vivos. Por experiência pessoal, sei que cadáveres são mais agradáveis de se carregar. Faz bem aos ouvidos, sem reclamações no caminho.
Levanto ausente de arranhões no que me restou de minha pele verdadeira, pequenas cicatrizes de uma existência sufocada em um rio de violência. Observo minha lâmina quebrada, feita em duas por uma criança como qualquer outra. Um trato como qualquer outro ou, ao menos, assim devia ser. Melhor, assim eu mentia para os únicos ouvidos que ainda se importam com isso. Os meus.
Pode não parecer e até posso esquecer mas, uma vez, essa lâmina servia a justiça. Era uma promessa de honra, de não abaixar sua cabeça para ninguém. Algo aconteceu, corrompeu minhas raízes até sua lembrança se tornar um borrão passageiro. Olhar a espada em duas, como há muito não se encontrava, atiçou aquilo que dormia em mim. Nossos embates na juventude, veias distintas pulsando por um mesmo coração. Uma mesma alma, uma garota de muitas faces.
- Maquiavel, não é? Você merece uma luta justa, um fim honrado pelo fio da espada. Creio que seu pai lhe trocou uma ou duas palavras sobre isso… O código samurai.
Parece os dias que fogem de mim, os dias de um passado que já se encontra debaixo dessa terra. Uma história morta. Ainda sim, sufoquei o punho de minha lâmina com um misto ideal de força e leveza. Uma amostra do equilíbrio, da filosofia, que deixei para trás. Samurai mais uma vez, assumo a postura de um guerreiro que a honra abraçou. Perto de meu rosto descansa minha espada, paciente para o anúncio da realidade. A violência inevitável.
Suspiro mas, devo admitir, é o suspiro mais divertido que ganha vida em anos. Um sorriso aranha meus lábios, feliz pela adrenalina que passa por minhas veias. Ou, ao menos, pelas poucas que ainda me restam. A névoa era densa, a maquiagem perfeita para esse mundo traiçoeiro. Sujo como os botecos que conheciam no face bêbada de audácia e embriagada nas raízes de suas próprias ambições. Sonhos que jamais veriam o além do esgoto.
O vento me soca, toca o metal que vive em meu peito. O som ecoava, assustava os poucos pássaros que se aventuram até aqui. Metal vagabundo, suas engrenagens sem olho gritam mais do que um homem alçado pela loucura. Amor, cobiça, todo caminho leva para o mesmo destino. A morte. Sozinho com aquilo que me tornei, assustado pela tormenta que cativei, mal ouvi quando o coveiro bateu em minha porta. Anunciou, como tolo, sua pegada.
- Pela minha casa, pelo orgulho Jaavas... Técnica de Atração e Repulsão.
Era como ser um peão em seu tabuleiro mais uma vez, me mexo sem poder tocar as cordas dessa marionete que tomou meu nome. Houve um piscar de olhos, um segundo perdido no escuro, foi o suficiente para me lançar ao vento. Deixar meus pés órfãos de seu chão, à mercê das leis da natureza. Sob as amarras, o cortar de asas, que é essa que chamam de gravidade. Uma força, além de meu mero olhar, castiga minha carne com uma pressão sem igual.
Se eu ainda tivesse um osso, um lembrete de minha tênue origem, lhe escutaria tocar a sinfonia da dor nesses instantes que teimam em ficar. Nervos, como vocês conhecem, pouco me importava. Ou, melhor dizendo, pouco restava. Cirurgias e incontáveis marcas frias tirou esse fardo de meus ombros quebrados. Separou-me do resto dos homens, me deixou livre do sofrer perpétuo. Sobrou ter asas abertas, sem nenhuma gaiola para marcar.
Costas batem ao solo, minhas engrenagens velhas regem e, mesmo sem palavras, rezam. Precisam de um óleo melhor, um que não seja tão barato quanto minha própria alma. Uma risada nasce de meus lábios, um pequeno pedaço de mim onde a carne ainda não está obsoleta, ela era um misto de alegria e pressa. O equilíbrio perfeito, bem lapidado, como a espada que escapou de meus dedos. Em que ponto estamos? Parece que nem a sombra minha deseja morar ao meu lado.
- Esse ato, esse ataque… Eu o conheço, já senti seu sabor antes. - Curioso, me ponho em pé novamente. Não havia sangue para rolar de mim, não há em muito tempo. Porém, não significava que esse “pequeno jogo” me deixaria ir sem mais nem menos. O metal de meu peito se encontrava deformado, como se um imenso peso tivesse sido jogado em seus ombros. Fascinado, passei a observar o feito. O show que esse mundo de horrores montou. - Acho que eu bateria palmas para você criança mas, se for como teu velho, me mandaria ao inferno por tal heresia.
Sorriso é um ente que corre em meus lábios, um personagem recorrente no meu teatro hoje. Alguns diriam que estou embriagado na loucura, um tolo que a própria razão decidiu por largar sua mão no meio da estrada. Não posso negar essa verdade, mas somos dois diante desse palco. Estou errado amigo de bebidas? Um que se entregou de bom grado, um traidor movido por amor e o outro, eu, que foi seduzido pelo poder. A promessa de voar sem nada para me atrapalhar.
O que esse caminho há de entregar para o mundo frio? Não posso falar por aquele que já dividi o aço mas, em meu caso, não há especialista melhor. Eu nasci em um mundo onde estaria destinado ao esquecimento, o canto mais distante e abraço pela poeira na prateleira. Sim, os samurais tinham data de validade mesmo antes da realidade banhar meus olhos a sua graça. Antes eram os Shinobis, agora era a ciência. Eu? Eu Apenas sou o sobrevivente.
Houve um eco, um corte fugaz que me acordou para aquilo que era real: para minha sentença. Uma espada se encontrava barrada entre meus dedos, criando um pequeno e audaz terremoto diante de minha palma metálica. Um arranhão se fez, mais uma cicatriz há de aparecer em minha coleção. A criança, outrora engolida pelas sombras, falhou em cisar a cabeça de meu corpo.
- Você fala demais.
As palavras saiam de sua boca, escapavam em meio a tormenta que vivia, de maneira breve e estranha a meus ouvidos. Seus pulmões, quebrados de ontem, deixam o seu falar uma tortura requentada. Não queria fazê-lo sofrer, vim de você já deveria ser uma punição suficiente para uma alma tão infante. Ainda sim, ele era intenso no golpe. Negar-se a perder essa chance passageira de sobreviver, de ter meu nome em suas lista de vitórias. Seu cartório de mortes. Nisso, para o céu ou inferno, traz a mim o fantasma de Mai.
Um estalar de dedos foi o suficiente para quebrar seu aço, nem mais ou menos foi preciso para fazê-lo dar adeus. Ainda sim, apesar de ser um adversário simples, corria em suas veias algo muito único. Vi, em sua face jovem, seus cortes se tornarem algo do passado em pegadas fugazes. Como um demônio, sua carne se regenera e se transforma no sinônimo de perfeição. Aquilo me traiu, o espanto em meus olhos cobraria seu preço.
Há um soco de minha parte, uma mensagem que acerta o céu de seu estômago de uma maneira mais brutal do que eu realmente queria. Impulsionado por um discreto propulsor alocado em meu braço, o golpe disparava a pobre carne infantes para metros de mim. A névoa, outrora uma testemunha intensa, foge por alguns instantes. Minha presença metia medo tempo o suficiente para meu olhar admirar seu feito. O imaculado, ainda com seus nervos vivos, se contorcia como um animal ao perceber a única certeza de sua existência. A morte, uma moça gentil, batia sua porta. A promessa de paz embriagava seus sentidos.
- Admito, me empolguei um pouco. Mas, te vendo assim, fica claro que estou fazendo um favor a você. Ninguém merece ser seu experimento, seu experimento predileto.
Tudo se tornava um, uma escuridão só. O frio era o novo passageiro nesse trem, tinha gosto em fazer meus dentes se baterem. Não adiantava falar pois, sem a língua, minha boca tinha que se contentar. Nada escapava de meus lábios, de meus pulmões carregados por engrenagens de segunda. O peito batia mas, o som não tinha a audácia para existir neste fim de mundo. O tabuleiro, antes do meu lado, se bagunçava uma vez mais. Estava ansioso pelo próximo turno, o próximo brando do destino.
Não podia confiar em olhos ou ouvidos, de carne ou não, os dois tem o mesmo desfecho aqui. Podia correr e o fiz sem culpa, tudo tinha seu fim. Tudo terminava em precipícios, até as trevas que me vestem. Essa era minha fé, a filosofia que me mantinha em paz quando a hora de colocar a cabeça no travesseiro chegava. Mas, tal como minha lâmina, ela já estava quebrada e posta em sete palmos. Era como um cadáver, dava os ombros para o certo eo errado. Indistinto do amor, se me perguntar.
Havia um certo receio em meus passos, um certo ar de nostalgia morava em meu redor, me fazia ficar na corda tênue entre memórias e a realidade. Suaria, se ainda tivesse muito de mim para isso. Cortesia de um dos doutores, magos desta nova arte, que encheu seus bolsos com meu ouro. Ia de um lado para o outro, fotografando seus instantes como apenas uma câmera atesa pode fazer. No fundo eu sabia, apenas não tinha forças para soltar em meus lábios. Sou uma cultura sendo assassinada dia após dia, mais uma peça empoeirada.
O breu não me era um horror, o escuro não é algo que assusta um samurai decente. Talvez. talvez fosse certo confiar naquilo que sobra de meu antigo eu. O que resta do menino com um sonho, um código tolo que me mantém preso na linha. Cego para aquilo que existe além do bem e do mal. Na derradeira estrada, nas trevas que enganam meus ouvidos e olhos, o passado é o meu único norte. A peça que me prende na corda bamba.
- Você deixou nossa cultura, você deixou nosso modo de vida… Almas e mais almas foram terminadas por sua espada, uma arte que, em suas mãos, era rasgada a cada segundo com o nome de profanação. Pergunto-me, em seus ombros velhos, quantos cadáveres de seus irmãos de armaduras ainda cabem? Dois, duzentos? Acho que números não importam mais.
Palavras, de repente, ecoam entre essas paredes negras. A voz não saia de meus lábios, era arrastada como eu jamais seria. Cada letra, cada termo, parecia lutar por sua breve existência. Falam de pecados, pecados que já me eram velhos conhecidos. O sangue em minhas mãos tem uma história, um monte de contos que se acomodam entre meus dedos frios; uma vez que era sempre embriagada pelo álcool. A vez dos mortos de abrirem a boca.
Era isso que ecoava entre essas paredes negras, o motivo de minha fama sendo escrito nas linhas dessa imagem bizarra. Seu anúncio, essa dúvida que acabou de acordar, pouco queria voltar a seu caixão. Apenas continuava a gritar por todo lado que eu me virava, apenas continuava a me atormentar a cada instante que se passava. Demorou um pouco mas, o início e fim perdem seu significado aqui. Uma distante miragem para eles, para mim.
Asami POV
Era mais um dia em frente as câmeras, era mais um terço de minha vida enfeitada com um belo sorriso falso. Os flashes constantes não me tiram mais do ar, é como um segundo sol para essa que nos fala. Há muitas palavras, muitos ecos que caminham até meus ouvidos imaculados. Elogios amargos, críticas doces e segundas intenções que fazem da gentileza sua morada. Pouco de novo realmente havia, eram as mesmas marionetes em um palco de cores diferentes.
Fugia da realeza, de ter súditos em meus pés mas, a realeza não fugia de mim. Eu tinha um fraco por luxo, pelo poder que ele representa. Talvez, fosse por isso que aceitava de bom grado esses trabalhos. Afasta-me do sonho sim, mas com um sabor que valia a pena ter entre meus lábios. Sentia-me que não precisava me provar a ninguém enquanto vestia isso ou aquilo, tinha o fácil sabor controle correndo como louco pela minha boca. Não sou tola, sabia que isso não passava de uma mentira. Uma doce anestesia.
Quando dizem que sua vida é a mercê de seu destino, de seus olhos violeta desde que nasceu, você faz coisas idiotas para provar que estão errados: para se convencer que aquilo era tudo menos a verdade. Sabia da ciência por trás dessas palavras, as minúcias de minha vontade e, ainda sim, estou aqui dando vida a mais um papel entre tantos outros. Já tive tantos nomes, tantas casas, que mais um não fará diferença. Só quero sentir no fim.
A imagem que dou é aquilo que esses olhos mortos, essas câmeras, tanto anseiam. O toque da perfeição, o vislumbre da estrela que me tornei. Meus cabelos, raros como diamante, lembram o sol que nos oferece o dom da vida. Irônico, seus fios são intensos e alinhados com muito esmero. Longos, se recusam a ficar em quatro paredes. Ditando o vento, alça por além de meus ombros delicados. Emoldura, de maneira sublime, meu rosto.
- Só mais algumas fotos, Asami… Será a modelo número um de Kiri se tudo correr bem. - Vou sorrindo, sorrindo como me ensinam a fazer. Sorrindo para sobreviver. Essa não é minha ambição, não é o que meu coração deseja. Mas, estou enganando quem? Isso e nada são sinônimos em minha cabeça. O fotógrafo, absoluto em suas cenas, continuava seus flashes sem fim. No que lhe diz respeito, só existo por essa lente. - Não se atrase de novo, certo? Não quero lhe dar sermão uma terceira vez essa semana...
- Você é muito gentil… - Declarou ao vento meus lábios, a verdade não podia está mais distante deles. A expressão em meu rosto era amena, digna da mais perfeita boneca que se pode encontrar em uma prateleira. Aos olhos externos, curiosos como o inferno, eu era a dama que todos almejam ter em seu colo. Ótima para uma foto. Porém, atrás da cortina, minha história era outra. Eu odiava isso, a mentira que visto todo dia em nome de um amanhã que nunca chega. - O pagamento, ele precisa ser feito hoje. Esse era o acordo… Longe de mim achar que um lorde como o senhor foge de sua própria palavra. Mas, sabe como é, não se pode confiar no cara com a câmera esses dias.
- Claro, Claro… A mídia mente. Já vai ser transferido para sua conta ou, melhor, para a de sua mãe. Ainda não é uma mulher Asami, falta muito para seu florescer. - Tirando o apetrecho de sua face, posso vê-lo bem pela primeira vez. Ele sorria, ainda que de canto, para mim como se fosse capturar seu próximo prêmio e expor em sua parede. Ele deve ter um museu, um altar para enfeitar com almas que são como eu. Um caçador era sua essência, sempre com fome. Sempre com um desejo a mais para saciar. Hoje esse desejo tinha meu nome nele. - Você tem tanto potencial criança, saia da sombra da mamãe… Vou fazer valer a pena. Uma vida de luxo, uma existência sem correntes. O sonho de todos, não?
Mais um vez eu era o centro desse palco, a estrela impaciente com seu próprio brilho. A roupa que cobre minha pele é uma boa mentira do que sou, a melhor cortina que uma garota teria a sorte de ter entre seus dedos. A beleza é uma palavra que todos anseiam, seja em si ou no outro. Ainda que vasta demais para uma só letra, uma só prisão, o mundo a quer assim. Sendo uma única palavra, uma única definição que amarra destinos e põem no canto o livre arbítrio. Esse mundo, esse sorriso falso, queimou minha infância com gosto.
Comecei a desenhar passos delicados, livres para se chocarem com a realidade fria que mantém viva meus dias na alta sociedade. Eu sorria enquanto fazia o caminho, um entre tantos logo perdem seu significado para mim. Outros o veem, o desejam para si, sem saber que ele não passa de um fantasma bem maquiado. Sobrevivência, essa é a desculpa que nos ombros carrego. A mentira para eu dormir abraçada a noite, uma só para chamar de minha.
Viver fugindo, correndo com o nome para mudar a cada nova esquina vista. Ser modelo é o trabalho perfeito para mim. Sempre trocando de roupa, sempre sendo a cobra ansiando há mudar de pele. Desta vez, um vestido azul escuro guardava minha carne macia do frio, me impedia de sair do salto alto de realeza. Uma princesa sem reino perdida em uma terra distante. A pele de animal morto passeia no horizonte de meu ombro, um casaco felpudo.
- Meu bom senhor, como posso dizer isso? Ou você para com os “negócios” ou eu darei uma de “destino” com você… Sim? - Parei no cameraman, dizendo as palavras de maneira suave em seus ouvidos. Aquilo era um sussurro, leve como o “vale felicidade” que estampa meu rosto. Ainda sim, em meio ao teatro, a verdade desfaz seu nó. Uma raiva, ainda que feita de uma bela miragem, pulsa em minhas veias. - Isso não vale só para mim, é por todas as almas inocentes que engordam sua conta.
Aquela falando era uma estranha no espelho, um reflexo em mil fragmentos espalhados sob o chão. As palavras, sussurros em seu ouvido, era a minha vontade em sua forma mais pura. Liberdade deveria ser assim, não? Mesmo assim, algo faz meu estômago revirar e meu sangue, o meu pobre eu, se viciar. O homem corria assustado, decidido não arriscar suas palavras comigo. O terror fugia de si mesmo, ia além de sua carne de segunda e fedia digno de um esgoto. Agarrava a sua câmera, a gasolina de sua perversão, como se nela o preço de sua alma repousava.
Demorou um pouco, alguns instantes, para perceber o sino “falando” comigo, querendo emergir e tornar-me sua marionete predileta. A aura que me abraçou, por um segundo ou dois, é tão quente quanto a estrela que nunca poderia tocar ou ser. A energia, em seu tom rosado, era única e, ainda sim, tão familiar. Era meu segundo coração, pulsando comigo desde então. Seu poder, ainda que de braços com o medo, tinha um gosto que há de renegar meus lábios. O sabor de voar sem uma gaiola encontrar.
Um sorriso descia até minha boca mas, enganado ele era. Doce já não era a palavra que iria cair em seus braços. Serenos porém, livres da sanidade. Os dentes brancos estavam lá, servindo-se de ser como a neve para um outono distante. Presas pareciam, o riso de um vampiro era seu epílogo. Belos e perversos, o reflexo de uma sacerdotisa em um espelho distorcido. Assustado o animal correu, nunca esquecerá essa imagem. Tornei-me uma pintura em seus pesadelos.
- Eu acho que meu mestre está ficando gagá, você não parece a criança “boazinha” e sacerdotisa pura que ele me descreveu… Parece interessante. - Surgia uma voz, um lembrete de não me perder em minha própria loucura. Aquilo me assustou horrores, fez minha espinha arder de frio mas, uma atriz que se preze, jamais derrama sua maquiagem no palco. Amena, apenas me virava e assistia um jovem de cabelos dourados capturar minha atenção.
- Desculpe, minha agenda está cheia… Quem é você? - Ria de maneira leve, querendo parecer mais uma ovelha na fazenda. Mas, algo me dizia que a verdade já sussurrou em seu ouvido há tempos. Ele não era como os outros, minha imagem não lhe arranca sorrisos falsos. Pelo contrário, seu olhar esverdeado como jade, transmitia algo que há muito se perdeu nessas cortinas. Sinceridade. - Se quer ver algum trabalho, minha mãe logo vai chegar. Não faço nenhum acordo sem ela.
- Agenda cheia, sério? Acabou de fazer seu terceiro chefe no mês molhar as calças… Sua mãe não vai gostar, está ficando muito na cara. Como dizem, os anjos são piores que os demônios… - O estranho apenas me olhava, um certo desdém vinha de seu semblante esguio e alto. De fato, ele precisava se curvar para falávamos no mesmo patamar. Ao menos, parecia me tratar como igual. Alguém vai além da pura propaganda, além de ser uma “boneca perfeita” - Certo, esse aí usava suas prediletas para vender órgãos e umas “particularidades” a mais… Entretanto, estou gastando saliva em vão, já sabia disso.
- Não mato nenhum deles mas, não vou ficar calado quando alguém precisa de mim… Se você se cala diante do mal, você também é o mal. - Digo, minha postura amena abria espaço para uma outra pessoa. Uma que não teme ser vista pelo que é, uma que deseja isso com todas as forças. Meu olhar violeta tinha um brilho, minhas veias se embriagam na adrenalina. Estou surfando em minhas emoções. - Um adulto e uma criança de doze anos sozinhos… O que acha que acontece se eu gritar? Começa a falar.
- Ok, Ok, você é uma peste astuta né? Meu nome é Ebern e sou o mensageiro da família Jaavas. - Num gesto simples, casual, ele tira de suas vestes uma carta e entrega em meus dedos. Educado, sem segundas intenções. Ainda sério, se distanciava um pouco de mim. Respeito é a palavra que assombra sua cabeça. - Sua mãe já foi informada, ela terá uma reunião com o meu senhor e, bem, ele convida Asami para um passeio pela vila.
- Falar de mim em terceira pessoa? Não, obrigado… Vejo que ainda estão resolvendo muito as coisas em minhas costas, não serei uma moeda de troca. - Pronuncio, um pouco irritante mas, sem perder a postura. Mexia em meus cabelos, nos fios de fogo do destino, de maneira discreta. Era o meu remédio pessoal contra ansiedade. - Você me tratou bem e agradeço porém, não tenho motivo para achar que sua palavra tenha algum valor.
- Gostei de você, é uma pena que terá que aguentar o filho mimado e chato de meu mestre em seu turismo… Maquiavel, um quatro olhos metido. - Ebern riria, pela primeira vez o vejo esboçar um sentimento. Uma prova de que estou falando com algo de carne e osso. Suas vestes, brancas e bem tratadas, escondem um esquisito senso de humor. - Maquiavel, Maquiavel… Tão tolo, ele perde todo pássaro que colocam pra ele guardar... Não vai ser nada de outro mundo ele perder mais um.
A última frase foi um sussurro, ao mesmo tempo tão íntimo e tão distante para mim. Eu sorria de maneira sutil, amena mas, nada mais podia fazer. Aquela que me botou nesse inferno havia chegado.
- Asami, parece que o King Jaavas já se adiantou com você… Muitos criados ele tem, não deve conseguir fazer nada sozinho...
...
Maquiavel POV
Abrindo o olho estou e, por um instante perdido no tempo, vejo o céu limpo. Aquilo foi fugaz, foi bonito. Não muito diferente de como a vida deve ser e, por alguns anos, a minha foi assim. Minha mãe, ela deve está se contorcendo no túmulo de ouro, assistindo seu filho em um show de horrores e violência como esse. Muita coisa mudou, o paraíso se tornou o inferno com sua partida. Não, isso está errado. Isso foi sempre o tártaro, a diferença é que a cortina caiu e ninguém tem a audácia de levá-la para casa.
Meu braço, meu braço esquerdo e dominante, estava contorcido diante de meus olhos negros. Mesmo que meus lábios estejam proibidos de falar, costurados com uma mão sádica, o meu rosto não é tão vazio quanto minha mente parece ser. Ele, ainda que de maneira efêmera, vivia um terror de aparência eterna. Uma adrenalina que se misturava ao medo em minhas veias. Estava assustado, a proximidade com o mundo real jogava meu tabuleiro ao alto. Minhas certezas, minha gasolina.
O estômago fazia o alarde que meus lábios haviam de ter guardado a sete chaves, o eco de um sofrimento que vai muito além a de uma mera carne. Costelas quebradas e afiadas como minha língua de prata, são ao menos quatro assim. Costelas que gritam, se mexem e, ainda sim, não tem voz. Os ouvidos, os meus, se fazem de surdos. Pagam caro para tirá-lo da lama. Sangue e lama. Isso é o que nos fez ir alto, esse foi o chumbo de nosso legado.
Demorou um par de minutos para me colocar em pé, um braço quebrado não ajudou muito essa ideia. Lá estava eu, a única peça de cabeça erguida do que sobrou deste xadrez, tendo seu corpo como uma gaiola. Ainda que mudo, minha carne tem sua própria garganta. A emoção em meio do apocalipse, o rastro de uma infância que se recusa a morrer. Mais um fantasma sussurrando para estes ouvidos tão doentes. Demasiadamente anestesiado.
Não posso me enganar, não para sempre. Podemos fugir mas ele sempre vai nos encontrar. Pela eternidade ele vai está. O sentimento, o lado humano dessa máquina que nos fala. A boca pode se fechar o quanto quiser, a tremedeira de meus ossos assumiu sua voz. O lugar de fala tão temido. Meus dedos são os heróis dessa vez, fazendo seu caminho até meus bolsos em meio a uma tremedeira infernal. Pegam uma lâmina, abraçam a kunai com tanta intensidade que sua pele se perde em uma vermelhidão efêmera.
- O plano deu certo, o plano deu certo, se concentre nisso… Foco.
Apenas um soco, um maldito soco, foi o suficiente para reduzir meu nome a migalhas. Fragmentos de um espelho quebrada e pintado em sangue. Assim era minha existência, assim era o dia quando decido levantar da cama. Às vezes queria parar, como qualquer outra máquina me desligar. Entretanto, liberdade não é algo com o que lhe é nascido, é conquistado através de brasas ardentes. Através do próprio inferno colocar o Diabo de joelhos e cortar sua cabeça. Isso é doentio, não sou tão tolo. Foi isso que meu pai contou e a ambição que minha vida se tornou.
Volto a mim, ao ato em si. Suado estava, como um porco que sabe do abate e, ainda sim, fica na fila sem fazer nada. Patético, mortal até o último fio. Eu sou assim, para a vergonha de que olhar para mim. Os dedos, embriagados de medo, vacilam em sua ordem. A kunai escapava de seu horizonte, batia na névoa que se fazia em minha frente. Não adianta muito agora, o metal negro já está em seu abraço. Longe da minha alçada, as sombras me traiam e, com um sorriso no rosto, a escondiam. A minha brecha entre os dois mundos, vivos e cadáveres. Esquecidos e os que tem seu nome escrito nas estrelas.
Desesperado, mesmo sem língua, minha carne gritava. Minha única mão que serve, a parte carente de defeitos, procurava a lâmina caída com afinco. Tudo doía, até respirar tinha seu preço colocado no cardápio. Não demorou para me humilhar novamente, sua melodia me clamava novamente. O eco da desolação, a ansiedade que corroía meus ossos a cada novo segundo que nascia, me fez abaixar a cabeça e ficar de joelhos. Fez-me um escravo, buscando uma mera ferramenta como se fosse o néctar do imortal. A razão para existir.
- Primeiro corte suas vestes, faça um torniquete como King me ensinou… Como ele faria. Depois mate esse Ronnin, será sua primeira morte… Seu ingresso para a Cerimônia… Um golpe e tudo acaba, um golpe e você fará sua criadora feliz.
A fala estava quebrada tal como esse braço, contorcido por meu terror que escapava de minhas amarras. Os dedos tocam o chão, sentindo o gosto áspero do mundo real, o mundo além de meus livros antigos. Ficar aqui, nessa posição, só faz minha pele berrar mais uma vez e castigar o silêncio que tanto amo. Joelhos feridos, meu vermelho ficando escrito nessas pedras. Foi um milagre...Não, foi um sádico ato do destino, que me fez encontrar a Kunai. Suspirei e, como um ingênuo infante, acalmei meus pulmões. Para quê? Para a brasa infernal conhecer.
...
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Ilusionista- Narradores
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